DISGRAFIA
É uma deficiência na qualidade do traçado gráfico sendo
que, essa deficiência, não deve ter como causa um “déficit” intelectual e/ou
neurológico. São crianças de inteligência
média ou acima da média, que por vários motivos apresentam uma escrita
ilegível ou demasiadamente lenta, o que lhes impede um desenvolvimento normal
da escolaridade (Ajuriaguerra, 1977).
A disgrafia, também é chamada de “letra feia”, não está
necessariamente associada a disortografia.
Para caracterizar a disgrafia, Ajuriaguerra estabeleceu
uma lista que inclui as características mais freqüentemente encontradas nas
crianças disgráficas. Esta lista é composta de 25 itens que são divididos em
três grupos distintos: má organização da página; má organização das letras;
erros de formas e proporções.
-
Má organização da página: este aspecto engloba
um total de 7 itens e, está intimamente ligado à orientação espacial. A criança
com dificuldades em organizar adequadamente sua escrita numa folha de papel,
apresenta um distúrbio de orientação espacial. Sua escrita caracteriza-se pela
apresentação desordenada do texto com margens mal feitas ou inexistentes,
espaços entre palavras e entre linhas irregulares e, escrita ascendente ou
descendente.
-
Má organização das letras: englobando 13 itens.
A característica principal deste aspecto é a incapacidade da criança em
submeter-se às regras caligráficas. O traçado apresenta-se de má qualidade, as
hastes das letras são deformadas, os anéis empelotados, letras são retocadas,
irregulares em suas dimensões e atrofiadas.
-
Erros de formas e proporções: composto por 5
itens. Refere-se ao grau de limpeza do traçado das letras, sua dimensão
(demasiado pequena ou demasiado grande), desorganização das formas e, escrita
alongada ou comprida.
Ajuriaguerra em suas pesquisas
realizadas na França, levantou alguns fatores que podem ser considerados causas
da disgrafia. Entre esses fatores citam-se: o desenvolvimento motor, o
predomínio lateral, a orientação e organização espacial, a ortografia e a
adaptação afetiva.
DESENVOLVIMENTO MOTOR
Um desenvolvimento motor adequado
é um dos requisitos importantes na qualidade gráfica, basta dizer que a
escrita, antes de qualquer coisa, é uma atividade motora. O ato de escrever, é
um ato bastante complexo que mobiliza uma série de segmentos do corpo. Além
disso, antes de se atingir o nível ideal de desenvolvimento motor, que permite
a realização da escrita de forma rápida, precisa, legível e sem cansaço, a
coordenação motora passa por diversos estágios. Em cada estágio de desenvolvimento,
cada segmento corporal desempenha uma determinada função até culminar com o
controle total do ato gráfico que é obtido pela fixação do cotovelo na mesa e
pela movimentação ligeira dos dedos e mão durante a escrita.
PREDOMÍNIO LATERAL
As crianças que são obrigadas a
escrever com a mão não dominante, apresentam uma série de dificuldades
gráficas. A escrita destas crianças caracteriza-se por tremores, falta de
precisão gráfica, dificuldades de organização espacial e cansaço freqüente. Por
outro lado, uma criança que vai iniciar o processo gráfico e que ainda não
apresenta uma dominância lateral claramente estabelecida, também pode encontrar
uma série de dificuldades para registrar de forma adequada os símbolos
gráficos.
Em relação ao canhoto e ao
destro, pode-se afirmar que ambos estão sujeitos a apresentarem uma disgrafia
se não forem convenientemente orientados sobre a postura corporal a adotar
durante a escrita, sobre a posição da folha de papel e a preensão do lápis.
ORIENTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL
A escrita é uma atividade motora
que obedece aos requisitos de orientação e organização espacial. Para escrever,
a criança tem que seguir a direção esquerda/direita e o sentido de cima para
baixo. As letras devem ser unidas de acordo com determinada seqüência, o mesmo
acontecendo com a colocação das palavras nas frases. Não é possível, portanto,
escrever uma palavra alterando a seqüência visual ou auditiva da mesma. Outro
aspecto importante é a organização de um texto na folha de papel. Para que uma
história escrita, tenha um sentido lógico e possa ser compreendida por quem a
lê, deverá ser apresentada de uma forma organizada. As linhas devem ser retas,
as margens respeitadas e, as idéias colocadas em determinada seqüência. Se a
criança inicia a história no meio da folha e a termina na parte superior da
mesma, dificilmente conseguirá transmitir o que deseja.
ORTOGRAFIA
A ortografia pode ser considerada
uma das causas da disgrafia a partir do momento que se exige rapidez e um
determinado ritmo gráfico, de uma criança que ainda não automatizou a relação
Som – letra. Neste caso, a escrita das palavras é lenta e, a maioria das
vezes,incompleta, porque o aluno tem certas dificuldades em recordar com
rapidez qual a grafia para representar determinado som. Estas dúvidas,
podem ocasionar uma escrita ilegível, retocada e confusa.
ADAPTAÇÃO AFETIVA
O estado emocional de uma criança
parece ter uma relação muito estreita com o desenvolvimento da disgrafia.
Crianças que não entendem qual o objetivo da escrita e, conseqüentemente a
encaram como uma atividade penosa, sentem pouca motivação para escrever e,
quando o fazem apresentam uma letra descuidada, uniões de letras mal feitas,
palavras escritas erradamente etc.
O nível de ansiedade é outro
fator que tem relação direta com a qualidade gráfica. Da mesma forma, o tamanho
da letra parece estar relacionado com as características da personalidade da
criança.
OS DIFERENTES TIPOS DE DISGRAFIA
Ajuriaguerra, concluiu que, as crianças disgráficas podem
apresentar deficiências nos fatores já citados, porém os que se apresentam mais
freqüentemente deficitários são: a orientação espacial, seguida da integração
motora e da adaptação afetiva. No entanto, o que tem chamado à atenção é que o
mesmo “déficit” pode ocasionar disgrafias completamente diferentes ou mesmo,
não causar qualquer tipo de dificuldade gráfica. Parece, portanto, que a forma
de disgrafia que acaba se desenvolvendo depende mais das características
individuais de cada criança do que do tipo de deficiência apresentada.
Ajuriaguerra diferenciou 4 grupos diferentes de disgrafia:
-
Grupo dos rígidos: tem como principal
característica a rigidez e a tensão. O traçado gráfico apresenta-se inclinado
e, geralmente comprimido, sobrecarregado de ângulos e empelotamentos. Além
disso, fica evidenciada a forte pressão que a criança exerce sobre o
instrumento de escrita.
-
Grupo dos relaxados: apresenta um relaxamento
geral no traçado, com irregularidades de direção e na dimensão das letras, as
quais são dispersas e pouco precisas, linhas mal feitas e margens mal
organizadas.
-
Grupo dos impulsivos: apresentam um traçado
rápido e precipitado, com ausência de firmeza (falta de controle) e de
organização. A escrita é irregular e instável, evidenciando-se prolongamentos
nos finais das palavras, nos acentos e na pontuação.
-
Grupo dos lentos exatos: caracterizam-se pela
busca da precisão e controle. A forma das letras é exata e a página bem
organizada. A escrita é regular tanto na dimensão como na inclinação, mas é
excessivamente lenta.
É impossível falar de um só tipo de disgrafia. Esta dificuldade gráfica
pode-se desenvolver e manifestar-se de diversas formas, dependendo da história
de vida de cada criança e da maneira como ela reage às pressões e expectativas
ambientais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Morais, Antonio Manuel Pamplona. Distúrbio de
aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica, São Paulo, EDICON,
1986.
Ajuriaguerra,
Julian de. A escrita infantil: evolução e dificuldades, Porto
Alegre, Artes Médicas, 1988.
Condemarín, Mabel. A escrita criativa e formal. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1987.
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